Israel Campos e Eduardo Quive lançaram hoje, em Maputo, Moçambique, a antologia “Construir Amanhã com Barro de Dentro – Vozes do Pós-Independência”, que reúne prosas de 19 novas vozes da literatura dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), que celebram este ano os 50 anos de independência.
“O livro nasceu após um encontro com Israel Campos em 2024, num programa de escrita criativa no Gana, e dali surgiu a preocupação em criar referências comuns de autores de língua portuguesa para as próximas gerações”, disse Eduardo Quive em declações a Lusa.
“É como se a utopia de uma língua comum, com mais de 250 milhões de falantes, e no nosso caso, sermos africanos e por isso a aproximação das realidades, fosse tudo isso cair num vazio. E repare que estamos a falar de autores que até já conseguiram, até certo ponto, quebrar as fronteiras dos países, mas a sensação que fica é que Moçambique, Angola, Cabo Verde, e outros estão extremamente distantes”, ressaltou.

Assim, os dois escritores, que organizaram a antologia, decidiram criar uma ponte literária entre países africanos de língua portuguesa, tendo como ponto de partida os 50 anos de independência desses países para refletir diversas temáticas do continente.
“Diríamos que nestes 50 anos, há vozes artísticas que se edificaram, são frutos dos sistemas dos seus países, de toda a complexidade social e política, das adversidades e diversidades. Essas vozes só conhecem os seus países como eles são já como Estados independentes. No caso de Moçambique e Angola há mais similaridades: ambos tivemos guerras civis, por exemplo. Eu nasci um ano antes do primeiro Acordo Geral de Paz. E Israel nasce numa Angola em guerra”, explicou Quive.
Para o angolano Israel Campos, “este livro é uma proposta analítica e crítica sobre os contextos sociais dos países africanos de língua oficial portuguesa”.
“Os contos reunidos nesta antologia acabam sendo uma reflexão contemporânea sobre o passado histórico dos nossos países, todas aquelas utopias criadas aquando das nossas independências e um olhar comparativo 50 anos depois”, disse o escritor, referindo que o livro quer pensar as próximas cinco décadas destes países.
“É também um convite a se ler o que estas novas vozes literárias dos nossos países têm a dizer”, acrescentou.
O livro contém o prefácio da escritora moçambicana Paulina Chiziane e de Inocência Mata, professora de Literatura e Estudos de Cultura na Universidade de Lisboa.
Em representação de São Tomé e Príncipe, a obra conta com os escritores Alice Pessoa, Ivanick Lopanza e Pedro Sequeira Carvalho.
No prefácio, Chiziane escreveu que nestes textos “há mais choro do que dança”. E continuou: “São textos de choro, denúncia e revolta. Mas, fiquemos claros. Choro é dor ou saúde. Por vezes, birra, rebelião, revolução. Quem não chora não mama. É preciso gritar para desassossegar”.
Fonte: RTP Notícias