Pelo menos três elementos da Unidade de Proteção dos Dirigentes do Estado (UPDE) são-tomense causaram hoje “confusão” no tribunal e ameaçaram funcionários e jornalistas, para impor a audição de um dos elementos utilizando a farda militar, denunciou fonte sindical.
Segundo os funcionários judiciais, a situação aconteceu durante a tarde, quando um agente da UPDE, indiciado pelo crime de violência doméstica, foi encaminhado pelo Ministério Público ao tribunal de primeira instância para ser ouvido pelo juiz de instrução criminal.
Os funcionários relataram que informaram o agente que o mesmo não poderia ser ouvido pelo juiz usando a farda militar, mas a orientação foi contrariada por um dos superiores do militar que o acompanhava à paisana (traje civil).
“A lei diz que qualquer cidadão deve se apresentar à civil (…). O superior não aceitou quando dissemos para ele retirar a farda (…). O superior deu ordem ao mesmo detido da UPDE e ele saiu a correr, e então começou a confusão entre os funcionários judicias e da UPDE”, relatou o representante do sindicato dos funcionários judicias António de Carvalho.
Perante o clima de tensão no tribunal, os funcionários chamaram a imprensa para o local para denunciar a situação.

“É algo inadmissível (…). Estão a basear-se da farda para não submeter-se à lei (…). O tribunal quer fazer o seu trabalho, mas a força quer usar-se da farda para controlar o sistema”, disse o representante do sindicato dos funcionários judicias.
Presentes no local, vários jornalistas, da RSTP, TVS, Gleba TV e correspondente da Agência Lusa, foram proibidos pelos elementos da UPDE de captar quaisquer imagens que os envolvessem.
Os jornalistas acataram inicialmente a proibição, mas, face ao reacender das discussões, começaram a captar sons e imagens, enquanto eram ameaçados e coagidos pelos agentes da UPDE, um dos quais apropriou-se do telemóvel que o jornalista Josimar Afonso utilizava para filmar e ameaçou agredi-lo, no local ou futuramente.
Num outro momento, outro elemento da UPDE que estava à paisana agarrou a câmara da Televisão São-tomense (TVS) para obrigar o repórter de imagem a vira-la para o chão, enquanto ameaçava os jornalistas, sob a advertência de que “o país é pequeno” e que “coisas poderiam acontecer” com os mesmos.
As ameaças foram dirigidas sobretudo ao jornalista Josimar Afonso que tentava explicar aos agentes da UPDE que não podiam obstruir o trabalho da imprensa.
Todas as discussões foram testemunhadas por magistrados judiciais que estavam na instituições, e elementos da Polícia Nacional que foram chamados ao local, mas apenas auscultaram as partes, sem qualquer ordem de detenção.

“A partir do momento que um agente começa com esse tipo de comportamento a nossa sociedade está de mal à pior […] isto não é a primeira vez […] isto já está a tornar costume”
No final, o elemento da UPDE ficou sob Termo de Identidade e Residência (TIR) e foi acompanhado pelos outros agentes da UPDE para as instalações da corporação, devendo regressar ao tribunal na quarta-feira para ser ouvido pelo juiz.
A situação acontece poucas semanas depois de elementos da Guarda Presidencial e da Política Militar se terem envolvido em cenas de agressões e pancadaria diante de várias escolas da capital são-tomense, gerando pânico entre os estudantes e pessoas que circulavam pelo local.
