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Crise de Representação: Quem Vai Liderar São Tomé no Futuro?

A crise de credibilidade não afeta apenas os partidos, mas alastra-se por toda a estrutura política. Durante demasiado tempo, a compra de consciências foi mais do que um vício: foi elevada a estratégia política.

Faltando pouco mais de dois anos para as próximas eleições, começam já a notar-se as primeiras movimentações no xadrez político nacional. A ADI, através do seu líder autoexilado em Cascais, tem regressado ao espaço mediático com maior visibilidade nas redes sociais e em entrevistas, onde sugere que é tempo de mudanças ao nível das lideranças políticas. Ainda que tenha deixado claro que não será candidato às presidenciais, não descarta a possibilidade de voltar a liderar o país enquanto primeiro-ministro.

Chegou mesmo a prometer sanções a membros do partido atualmente no poder, mas até ao momento nada foi feito — talvez por estratégia. Afinal, quem governa o país continua a ser a própria ADI.

ADI: Força Dominante ou Oportunidade Perdida?

A ADI pode ser comparada ao Paris Saint-Germain da política nacional: um partido com estrutura, história e confiança popular, mas que não tem conseguido transformar essas vantagens em resultados concretos. Apesar de se manter como força dominante, falha em afirmar-se como uma alternativa sólida, madura e transformadora para o país.

O Vazio da Oposição

Mais preocupante do que os erros da ADI é a ausência de uma oposição credível. Isto não significa que a ADI seja um exemplo de governação — muito pelo contrário. A situação em que nos encontramos é, em grande parte, consequência da fragilidade e da desorientação dos partidos que deveriam assumir o papel de contrapoder.

Entre esses, destaca-se o MLSTP, que, pelo seu peso histórico, teria a obrigação de fazer mais e melhor. Porém, o partido atravessa uma profunda crise de identidade. Só um líder verdadeiramente reformista e determinado poderá resgatar o MLSTP do marasmo em que mergulhou.

Quanto aos restantes partidos, pouco há a dizer. Eles próprios reconhecem que se encontram em modo de sobrevivência, sem estrutura, projeto ou condições mínimas para se apresentarem como alternativas viáveis nas próximas eleições.

Novos Atores e Realidades Paralelas

Prevejo que a ADI venha a reforçar a sua posição como o maior partido do país, enquanto o MCI pode registar crescimento, sobretudo em número de deputados. O PUN, por sua vez, vive uma realidade distinta na Ilha do Príncipe, que merece uma análise própria, noutra oportunidade.

Nova Geração, Velhos Problemas

A crise de credibilidade não afeta apenas os partidos, mas alastra-se por toda a estrutura política. Durante demasiado tempo, a compra de consciências foi mais do que um vício: foi elevada a estratégia política.

Hoje vivemos as consequências disso. A nova geração de políticos não parece acreditar em processos estratégicos que lhes permitam definir e orientar a sua ação política. Nota-se, de forma preocupante, uma ignorância generalizada, que impede qualquer tentativa séria de renovação.

Um Espelho da Sociedade

Este colapso político e ético reflete-se na sociedade santomense. Em cada esquina sente-se um povo desiludido, cansado e resignado. Tal como os seus líderes, o santomense tornou-se frágil, receoso e desamparado. Conformou-se com a sua condição de pedinte compulsivo e deixou de acreditar em projetos coletivos ou num futuro melhor.

Conclusão

São Tomé e Príncipe vive um momento de encruzilhada. A política está desacreditada, os partidos tradicionais perderam o rumo, e a sociedade encontra-se à deriva. Ainda há tempo para mudar, mas isso exigirá coragem, visão e compromisso — qualidades cada vez mais raras no atual cenário político.

O autor é observador atento da política nacional e escreve a título pessoal.

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