O “Banho” uma Necessidade ou Fenómeno a combater?
Num país tão quente, como São Tomé e Príncipe, onde é difícil resistir tanto tempo sem banho, que por azar as elites só abrem as portas nesses períodos sazonais; na verdade se conclui que se não fosse essas milagrosas épocas sazonais de “banho” o número dos indivíduos sucumbidos bem como os infractores, seria muito mais alto.
Esse “banho” tem alicerce no povo, que interiorizou a burrice dos políticos e diz-lhes o seguinte:
“– Tu precisas do meu voto, pagas; que para mim é indiferente. Porque sei que quando subires ao poder não vais fazer nada… Ao menos pagas, agora.”
Ainda o meu grande amigo e vizinho de Boa Morte, vulgo Democrata, tinha chegado de Cuba com uma formação superior e dada a valência, foi convidado para o Governo. Exerceu o seu dever profissional e ao terminar o mandato regressou a sua origem. Fiquei muito feliz a ver o meu vizinho de volta sem as chatices de seguranças, como se ontem não era Ministro!
Até aqui, nada de estranho… mas os nossos mais velhos não lhe perdoaram, alguns nem conseguiram esconder a raiva e mesmo perante ele, diziam:
Quê kwa bô ba nala ba fé?
…
Punda quê kwa bô na lega ôtlo nguê bé fá?
…
Bo ca bila bi vivê naí, póbli mo non mé?
O Democrata não entendia os mais velhos, por fora ele parecia quem estava a menosprezar o assunto, mas por dentro… longe deles, escutava-se desabafos, como esse:
“- Essas gentes, não sabem o que querem… percebi que queriam que roubasse o estado e ficasse rico indevidamente, mas eu nunca serei assim. Haja o que houver, lutaremos por um São Tomé e Príncipe, melhor sem usurpação do estado que somos todos nós, e somos tão poucos!”
Tempos passaram o vizinho nunca mais foi chamado pela elite, e se enfileirou na Educação como professor no Liceu nacional… enamorou-se, casou e teve o seu filho primogénito.
Aconteceu que esse filho tinha alguma deficiência auditiva que lhe impedia de ouvir e já com cerca de três anos de idade só fazia um barulho que a mãe lhe conseguia acalmar com algumas palmadas agressivas.
Os médicos em São Tomé e Príncipe disseram ao Democrata repetidas vezes, o que a priori já sabia:
“– O seu filho começará a falar, se ouvir e neste momento ele precisa ir a Lisboa fazer uma cirurgia e tudo ficará bem. Nós aqui não temos condições para isto. Mas o problema é que o Governo neste momento, não dispõe de verbas, para custear a viajem dele e um adulto (acompanhante). ”
O Democrata percorreu todos os ministérios procurando a ajuda para evitar a barulheira do filho e ter algum sossego na família, em vão.
Não tardou muito, e chegamos de novo aos tempos sazonais de “banho” e talvez por sorte alguém de uma das elites convidou o Democrata para chefiar um desses balneários que deu para tomar banho, e até levar a água para família em casa, onde o seu filho carecia desse liquido precioso, como ninguém.
O meu grande amigo Democrata, conseguiu assim pagar os custos da viajem para o seu filho e esposa que foram prosseguir os tratamentos em Lisboa.
Tempos depois, regressaram a São Tomé e Príncipe, a mãe e o Ismael (o filho) que já falava e escutava como qualquer criança, com toda a normalidade… a barulheira acabou e a paz voltou a casa do meu amigo Democrata.
Por isso meus amigos/as muito cuidado quando colocam em causa o problema do “banho” sazonal, que o povo de São Tomé e Príncipe sempre precisa tomar, porque graças a ele, muita gente tem sobrevivido ao imenso calor do nosso lindo país.
Agostinho Viegas