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O golpe (de teatro) sangrento que tingiu de rubro o Oásis de paz do Golfo da Guiné

Famílias destroçadas; vidas dilaceradas sem norte; cicatrizes psicológicas indeléveis. Quanto tempo e qual preço a pagar por tanto trauma e tamanha tragédia humana?

São Tomé e Príncipe – O golpe (de teatro) sangrento que tingiu de rubro o Oásis de paz do Golfo da Guiné na fatídica madrugada de sexta-feira 25 de novembro de 2022.

As redes  sociais muitas vezes criticadas e até diabolizadas pelos excessos cometidos ou por défice de rigor na comunicação informal de massa, desta vez, esta ferramenta está a prestar um valioso serviço a nação são-tomense, ao trazer paulatinamente a ribalta, uma semana depois, factos irrefutáveis ( testemunhos, vídeos e imagens de terror no Quartel das Forças Armadas) que vêm repôr a veracidade dos acontecimentos, ajudar a sedimentar a verdade histórica e contribuir com ingredientes valiosamente objetivos na investigação, na imparcialidade da Justiça e no esclarecimento cabal da comunidade nacional e internacional, sobre esse verdadeiramente falso ou falsamente verdadeiro hediondo “Golpe …”.

Caras e caros são-tomenses, de Caué à RAP, dentro e fora do País.

O que aconteceu na sexta-feira 25 de Novembro, em S.Tomé e Príncipe é demasiado grave e escapa a qualquer raciocínio e enquadramento lógico. São cenários de horror, carregados de muito ódio e monstruosidade animalesca, enfim, coisas da pré-história, de homem-fera, doutros tempos, outras latitudes e outras culturas e que me deixam desarmado perante a quantidade e qualidade da educação ministrada no nosso país, mormente educação para cidadania e para os valores. Por esse andar é melhor o relacionamento de “peixe com peixe no mar”.

Famílias destroçadas; vidas dilaceradas sem norte; cicatrizes psicológicas indeléveis. Quanto tempo e qual preço a pagar por tanto trauma e tamanha tragédia humana?

Fisicamente ausente, por força das circunstâncias, acompanho ao pormenor a evolução dos acontecimentos no país, seja pela sintonia com a Direção do meu Partido, seja por outras fontes documentais, redes sociais ou pessoas, sem esquecer a absoluta necessidade de se sensibilizar a comunidade internacional e os “Médias” estrangeiros, para a gravidade da situação política reinante no país e o atropelo grosseiro aos direitos humanos, liberdades e garantias dos cidadãos são-tomenses.

De facto, durante quase quatro anos de governação do XVII governo ( Dez 2018 / Nov 2022), que tive a honra de chefiar, num contexto mundial difícil, em coabitação política, com mais de dois anos de crise sanitária Covid-19 e seu corolário, acrescido do cortejo de infortúnios, nomeadamente, naufrágio do navio “Anfrititi”, as enxurradas nunca antes vistas, a epidemia da dengue, entre outras contrariedades e imponderáveis, apesar dos altos e baixos, inerentes a qualquer governação, assegurou-se alguma estabilidade política, paz social, garantia da liberdade de expressão e respeito por outros direitos fundamentais da pessoa humana, valores raros nos dias que correm.

Por isso chegamos a simplesmente triste conclusão:

Depois de quatro anos de ausência, bastaram dois meses após as eleições de 25 de Setembro último, ganhas pelo partido ADI; 14 dias de governação do novo poder(XVIII Governo), ainda antes das mudanças de todos os diretores e outros decisores intermédios, ainda sem um programa do governo aprovado; sem o OGE aprovado, o País vive uma realidade inédita, o prenúncio dos novos tempos (“ L’Etat c’est moi”) – corroboram essas evidências, o sangue das vidas prematuramente ceifadas no dia 25, entre as quais a de Arlécio; mais de uma dezena de militares detidos; a detenção do deputado Delfim Neves no Quartel das Forças Armadas para interrogatório; o massacre dos detidos na câmara da morte, envolvendo, no interrogatório, figuras femininas  militares, sem o mínimo de deontologia sobre saúde militar.

A propósito, importa realçar que li um artigo que colocou uma pertinente questão sobre esse alegado “Golpe”:

“Tentativa de golpe de Estado ou estratégia para aniquilar inimigos?”

Efetivamente, com o pedido de demissão do Brigadeiro Olinto Paquete, inconformado com tamanha falsidade que o induziu em erro, bem como a chocante violência das imagens divulgadas, um clarão de verdade acende na escuridão do túnel.

O Brigadeiro Paquete afirmara ter sido enganado. Quem ou que equipa é que forjou essas informações falsas?

Preventivamente exige-se que outros oficiais ligados à barbárie devam ser demitidos. O mesmo deve acontecer com as senhoras militares assinaladas nas imagens.

A imagem das Forças Armadas tem que ser rapidamente resgatada – Forças republicanas para defender o Pais e o povo e não para matar os filhos do povo.

Espero ser essa, a missão do novo Brigadeiro, portanto, expurgar das Forças Armadas os elementos nocivos.

Pode- se chamar a responsabilidade todos os intervenientes nesse processo do “Golpe”, porém há um governo e o governo é liderado por um chefe que deve assumir toda a responsabilidade e as consequências.

Por conseguinte, enquanto cidadão, enquanto ex-Primeiro Ministro e ainda enquanto Presidente do maior partido da oposição, peço a V.Exa. Senhora Presidente da Augusta Assembleia Nacional que usando os seus bons ofícios, convença a Assembleia Nacional a reconsiderar legítima petição do MLSTP/PSD, quanto ao debate de urgência sobre o Golpe.

De igual modo não posso deixar de pedir a Sua Exa. O Presidente da República, que assuma um papel mais interventivo e use a sua magistratura de influência, que seja o garante da Constituição, mas acima de tudo, que seja o primeiro protetor de todos os são-tomenses, sem exceção.

A comunidade internacional, incluindo parceiros bilaterais e multilaterais e ONGs internacionais, todos aqueles que têm suportado técnica e financeiramente o desenvolvimento humano e o processo democrático inclusivo do país, que nos ajudem, por via de inquérito sério, aturado e imparcial, a desvendar os contornos desse “Golpe”, no sentido do apuramento da verdade, doa a quem doer. A maneira como lidarmos com esse processo pode ser nossa salvação ou nosso inferno.

O MLSTP-PSD, partido da independência do país, ainda acredita nos parceiros e na força das instituições democráticas. Continuaremos a fazer o nosso trabalho, de forma responsável e dedicada, para que a verdade seja exposta. O futuro de STP depende da seriedade das investigações e dos investigadores. Alguns países têm adidos de defesa junto das autoridades são-tomenses. Ajudem-nos a prevenir conflitos e a preservar a paz, um recurso escasso na nossa sub-região.

EM STP somos tão poucos, somos tão parentes uns dos outros, precisamos tanto de todos para avançar coesa e coletivamente!

No livro de História de STP, um capítulo fechou-se no dia 25/11/022, um outro se vai abrir – talvez não seja o fim do sonho, porque os homens passam, as instituições e o povo ficam, permanecem perenes como os ideais.

Que Deus abençoe São Tomé e Príncipe. STP- Tela.

 

Jorge Lopes Bom Jesus.

Lisboa, 3 de dezembro de 2022

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