Por mais cultura digital em São Tomé e Príncipe
São Tomé e Príncipe é dos poucos países em que apenas um dos órgãos de soberania, a Assembleia Nacional, tem o seu site atualizado e em funcionamento. Nem a Presidência da República, nem os Tribunais, nem o Governo o têm. É preciso criar, atualizar e utilizar os sites por mais cultura digital em São Tomé e Príncipe!
Por mais cultura digital em São Tomé e Príncipe
Depois de deitar-me por volta das 21h, finamente por volta da meia noite consegui dormir, mas às 4h da madrugada já estava acordado. Tem sido quase uma rotina, devido ao turbilhão de pensamentos e ideias sobre São Tomé e Príncipe que não param de fervilhar na minha cabeça o tempo todo.
Desta vez o tema que se sobrepunha nos meus pensamentos incidia sobre a “cultura digital em São Tomé e Príncipe.” Acredito que não foi em vão, aliás devido a força do ofício e do hobby, sobretudo, com o advento da pandemia, tenho sido “obrigado” a estar, quase que permanentemente, no digital. Ou seja, estou quase sempre online. Aliás, com o advento da pandemia da Covid-19 penso que todos fomos obrigados a estar mais tempo no digital. Espero que o pós-Covid-19 continue a ser cada vez mais digital.
Por mais cultura digital em São Tomé e Príncipe
Olhando para São Tomé e Príncipe constata-se significativos avanços no domínio das Tecnologias de Informação e Comunicação, nomeadamente a chegada do cabo submarino, a entrada da Unitel no mercado das Telecomunicação somando-se a CST, a proliferação do uso de smartphones no país, a digitalização de muitos serviços da Administração Pública, entre outros.
Contudo, apesar destes avanços, que podemos considerar estruturais e essenciais, ainda é muito fácil constatar que “por mais cultura digital em São Tomé e Príncipe” falta-nos o básico. Por não ser da área da informática ou afins, vou analisar, simplesmente, aquilo que penso ser o básico deixando outras questões para os especialistas e melhores entendedores da matéria.
Quais são as condições básicas que nos faltam para alcançarmos mais cultura digital em São Tomé e Príncipe?
- O e-mail. Hoje em dia, quase todos os santomenses que têm um smartphone (já somos muitos) têm um e-mail. Aliás é uma das condições obrigatórias para quem utiliza o android e precisa de instalar aplicativos.Se é verdade que muitos têm o e-mail, também é verdade que a maioria destas pessoas não sabem ou não têm tirado o verdadeiro proveito dele. Não falo apenas do cidadão comum. Falo também das organizações/instituições da sociedade civil e do Estado, bem como da classe dirigente. Quem está fora de São de São Tomé e Príncipe perceberá com maior facilidade o que estou a me referir.
Penso que internamente o desafio deve ser maior, por isso o meu apelo para a maior valorização do e-mail entre pessoas e instituições do nosso país.
Sou de opinião que as instituições devem ter e-mail institucional/profissional e não continuar a utilizar o e-mail pessoal como facilmente se constata nas organizações, entre os dirigentes e os serviços de assessoria. Esta alteração necessária, em certa medida, também facilitaria o processo de passagem de pasta e a continuidade de Estado. Há outro hábito negativo na nossa comunidade que é quando as pessoas recebem uma solicitação por e-mail, elas nunca respondem ao e-mail, mas vão ao facebook mandar mensagens ao emissor.
Outras coisas simples que podem e devem começar a serem tratadas via e-mail: Pedido de reunião; convites; envio de propostas; alguns ofícios (no caso da administração pública). Além das vantagens ambientais, na medida em que contribui para a redução do uso do papel, a utilização do e-mail para estes fins ajudaria na desburocratização da Administração Pública, celeridade e simplificação de processos e economização de tempo e dinheiro.
Por tudo isso e muito mais, estou certo que é preciso que as organizações criem e-mail profissionais/institucionais e façam o seu devido uso por mais cultura digital em São Tomé e Príncipe. Tudo está a um clique!
- Facebook. É a principal rede social utilizada pelos santomenses. As suas ferramentas vão além da possibilidade de fazer diretos/lives (que têm se tornado cada vez mais vulgar), fazer comentários e post banais e sem qualquer conteúdo ou publicar fotos.
O facebook veio para aproximar as pessoas, quebrar a barreia entre o que está lá e o que está cá. É hora de entendermos isso! Felizmente, hoje em dia quase todas as organizações/instituições têm uma página no facebook. Será que estão a fazer o verdadeiro uso dela? Não.
Coisas simples que podemos/precisamos melhorar:
- O facebook pode ser, para já, um meio alternativo ao e-mail (se quisermos adpatar a nossa realidade, tendo em conta o fraco uso do e-mail).
- As organizações devem ter um responsável pela gestão da página que, além de produzir e gerir conteúdos, deve visitar regularmente a caixa de mensagens e respondê-las.
- É necessário e prioritário disponibilizar o e-mail da organização nas ferramentas de contacto disponíveis na página. Ter apenas o número de telefone (fixo) é uma grande limitação ou exclusão de quem vive na diáspora que quer contactar a vossa instituição/organização. As páginas têm serviço de mensagem automáticas/personalizadas. Façam constar o vosso e-mail nestas mensagens. É preciso e é necessário.
- As publicações devem ser vistas e revistas antes e depois das suas partilhas. Começa a ser ofensivo o número de erros ortográficos nas publicações de pessoas cultas e ou instituições de Estado.
Enfim…Poderia enumerar outras coisas em relação ao facebook, mas para não ser muito mais extensivo fico por aqui, mas não sem antes realçar alguns aspectos positivos:
- A participação de alguns dirigentes políticos, como o Presidente da Assembleia Nacional, o Primeiro-Ministro e alguns ministros em entrevistas e eventos online. Igualmente uma nota positiva para o Ministério da Agriculta que é, para já, o único Ministério a utilizar a sua página para programas em direto sobre as suas ações.
- A Assembleia Nacional pela transmissão em direto dos debates parlamentares.
- A Policia Nacional pelo serviço de informação e proximidade através do facebook.
Estas práticas devem continuar e multiplicar-se por mais cultura digital em São Tomé e Príncipe!
- O website. Parece óbvio que a nossa comunidade recorre muito poucas vezes aos sites das organizações/instituições. A verdade seja dita, a maioria destes sites encontram-se inoperantes ou desatualizados.Por mais que as coisas possam ser disponibilizadas nas redes sociais, há coisas que devem ser disponibilizadas no site. Dá mais credibilidade a instituição e segurança ao utilizador.Penso que São Tomé e Príncipe é dos poucos países em que apenas um dos órgãos de soberania, a Assembleia Nacional, tem o seu site atualizado e em funcionamento. Nem a Presidência da República, nem os Tribunais, nem o Governo o têm. É preciso criar, atualizar e utilizar os sites por mais cultura digital em São Tomé e Príncipe!
- O Youtube: É ainda uma ferramenta absolutamente desconhecida e inutilizada pelos santomenses. Pelo mundo fora, milhares de pessoas ganham dinheiro no youtube. Sim, são os Youtubers.
O Youtube é uma ferramenta de fácil uso e acesso e pode ser uma alternativa para os órgãos de comunicação social nacional, Televisão Santomense (TVS), Rádio Nacional (RNSTP) e outros do sector privado que têm falta de serviços online. Felizmente a Rádio Nacional está novamente online apesar das debilidades deste serviço. A TVS também já esteve, mas hoje já não está. Espero que o mesmo não volte a acontecer com RNSTP.Online ou não a TVS e a RNSTP deveriam estar presentes no Youtube. Além de deixar disponíveis os seus conteúdos (programas e reportagens), permitindo o acesso a qualquer hora e em qualquer parte, o youtube pode ser igualmente uma ferramenta de backup, ou seja, é um lugar seguro aonde podem armazenar os conteúdos sem custos adicionais.Neste capítulo, não posso terminar sem dar nota positiva para algumas jovens que têm feito um trabalho de persistência afim de incluir o nome de São Tomé e Príncipe no universo Global dos Youtubers. Igualmente os cantores e Djs estão de parabéns. Música santomense no youtube é o que não falta. Destaco igualmente o trabalho indispensável da RSTP, particularmente do projeto “Relíquias de São Tomé e Príncipe” que disponibiliza um manancial de músicas de São Tomé e Príncipe para alegrar e animar os nossos dias a toda hora.
Estes grupos têm feito a sua parte, com toda persistência e superando múltiplas barreiras, por isso é indispensável o nosso apoio. É preciso subscrevermos, ativar o “sininho”, colocar like, comentar e partilhar os seus conteúdos para que possam ter ânimos e fazer mais e melhor, levando o nome de São Tomé e Príncipe para os quatro cantos do mundo, por mais cultura digital em São Tomé e Príncipe.
- Instagram: Tem sido uma plataforma utilizada maioritariamente pelos jovens santomenses na diáspora, mas há também quem esteja nas ilhas maravilhosas que tem conquistado milhares de seguidores.No instagram as palavras e os diretos são em menor número [salvo o período de confinamento) comparando com o facebook. O que conta mais são as fotos. Sim, as meninas que exibem a beleza da mulher santomense, nos biquínis coloridos exibindo “corpos perfeitos” são as quem têm conseguido milhares de seguidores.
Contudo, destaco a presença de outro grupo de jovens empreendedoras que têm feito uma árdua “batalha” para conquistar o mercado do instagram e promoverem as suas marcas, produtos e serviços. Já há dezenas, mas o parece que o apoio e seguidores lhes tem faltado.
Há também projetos de informação, formação e capacitação promovidos por santomenses que, pouco a pouco, tem ganho seguidores no insta. Dentre eles, destaca-se o Portal STP ON, o projeto Chá de Beleza Afro, o Saúde Sem Tabu, o Santola Nations a Zunta TV e claro a RSTP.
Uma chamada de atenção! Parem de criar páginas e contas, seja no instagram ou no facebook, por tudo e por nada! Façam parcerias e colaborações. Colaborar é poupar e ganhar. Há áreas que já não justificam inventar ou criar coisas porque, de certeza, não será tão diferente daquilo que já existe. São exemplo: A comunicação/informação; Música, o Empreendedorismo e Empoderamento Feminino e outras. Se tens gosta pela apresentação ou escrita, então junta-te a um destes projetos e cresçam juntos. “Sozinho poderás ir rápido, mas juntos poderás ir mais longe.” É hora de unir e colaborar por mais cultura digital em São Tomé e Príncipe.
- Jornal Digital: Atualmente são três os principais jornais digitais que disponibilizam, com regularidade e grande alcance, informações sobre São Tomé e Príncipe. Destaco que a RSTP faz parte deste leque reduzido.Infelizmente estes canais não têm sido “usados” como deve ser pela nossa comunidade, não sei se por desconhecimento ou por outro motivo qualquer. Também é verdade que escrever para um site de notícias não é a mesma coisa que escrever no facebook.
Se compararmos com outros jornais estrangeiros, hoje em dia, os canais são alimentados com muitos artigos de opinião, argumentos e contrargumentos sobre as temáticas que marcam a atualidade nestes países. Nestas comunidades os académicos, os especialistas e mesmo os estudantes perpetuam as suas opiniões e saberes através de palavras escritas e publicadas em canais de informação. E a classe política? Pois bem, a classe política, muitas das vezes, prolonga ou começa os debates num jornal. O Primeiro-ministro e os deputados também marcam presença com artigos de reflexão e opinião. As redes sociais para eles servem apenas para mensagens curtas e objetivas.
E na comunidade santomense? Entre nós, estamos interessados em ter likes e partilhas no facebook, com textos enormes que perecem ao fim de dois ou três dias (cá entre nós, dificilmente os leio, mesmo quando me identificam).
É hora de mudar! É preciso credibilizar a sua opinião e uma das formas de fazê-lo é escrevendo para sites/jornais com credibilidade e a RSTP é um deles.
Felizmente uma parte da juventude já percebeu isso e tem feito. Parabéns. Nos próximos tempos espero ler e ver mais artigos de santomenses bem jornais por mais cultura digital em São Tomé e Príncipe.
Este artigo é um desafio aos informáticos e ou pessoas que dominam melhor as questões afloradas para uma melhor abordagem. Não podemos ir muito longe enquanto não estruturarmos os pilares e providenciarmos o básico.
Escrito em 5/08/2020