São Tomé vive a lógica de campo de refugiados, convença-me do contrário!
Em uma conversa de bar, um amigo levantou essa possibilidade: São Tomé é um campo de refugiados e não compensa meditar teses económicas e sociais importadas para pensar esse país. De facto, ele parecia-me certo. A defesa desse raciocínio veio de argumentos que farei questão de expor, talvez não com a mesma precisão que ele teve.
Primeiro: ninguém produz nada. Como em um campo de refugiados, o bem-estar de alguém não é determinado pela sua capacidade produtiva ou o seu engenho. O que conta é quem tem acesso aos bens que chegam do exterior, o melhor mendigo no poder. Claro, os bens passam por uma pirâmide sombria. Começa desde o mendigo de fato e gravata no poder, passa por seus bajuladores até chegar no mais humilde dos pedintes.
Segundo: por acesso aos meios básicos todo mundo se prostitui. Como em campo de refugiados, é comum que acesso ao farnel seja pago com sexo ou outras formas de prostituição mais sofisticadas. Nessa ilha aquele que distribui os empregos exige uma prostituição passiva e às vezes activa dos beneficiados. Ora comendo a secretária, ora chupa-se uns e outros por um visto, ora exige-se que grite alto o nome do partido por um cargo de direcção, ora dança-se na campanha por algumas horas extras no trabalho. Quando menos se acredita, esses prostitutos ficam arrogantes, querem ser chamados de doutores e evitam cumprimentar antigos amigos.
Terceiro: não existe senso de identidade. Todo mundo é tudo menos santomense. Quem puder exibe a nacionalidade portuguesa, outros, angolana ou de algum lugar qualquer. Que nem em campo de refugiados, o senso de pertencimento não existe. Só não vendeu o país quem não teve oportunidade para tal. E dos poucos honestos que existem e reclamam, é até que um familiar seja beneficiado em um cargo (prebenda) onde nada produz e ganha muito. Como em um campo de refugiados, aqueles que driblam a lei e enganam os outros são tidos como espertos.
Quarto: o conceito de família não existe. Como em um campo de refugiados, a promiscuidade e o álcool surgem para anestesiar a consciência. A única ligação possível heteronormativa: a dependência económica de um dos cônjuges. Em situação de igualdade salarial, os casamentos dificilmente duram. Já que os afetos não existem por uma questão de protecção da mente. Se a filha de 14 anos estiver com um juiz, melhor ainda. A mãe volta para casa após uma jornada em escritórios encantando serpentes e o pai tem mais 3 mulheres “oficiais” onde gasta o pouco que não tem e pedirá dinheiro emprestado aos amigos. Essa é a típica família santomense
Quinto: o medo é uma constante. Como em um campo de refugiados, o futuro é imprevisível, o que gera muita ansiedade. Daí a casa do curandeiro e a oração diária quanto mais dinheiro se tem. Ele não tem hospital de referência, logo, toda doença é um vizinho invejoso que o quer matar. O seu trabalho não é estável, logo, um colega do trabalho que o quer desgraçar. Os refugiados (santomenses) precisam sempre bajular e pedir misericórdia aos que têm acesso aos bens que são doados. Os que estão no topo de uma pirâmide de areia vivem na ilusão que serão eternos. O idiota não reclama na esperança que chegará o seu dia de glória, por fim, nunca chega, os lugares são os mesmos e os refugiados se multiplicam, os que lá estão buscam formas de garantir o futuro dos filhos, mulher e amantes. Daí instituições tão “familiares”.
Logo, De silêncio em silêncio quebramos as colunas erguendo um sistema insustentável, uns com fome e outros que não conseguem dormir protegendo o pouco que têm. Sempre que um inocente fala sobre o nosso paraíso eu respondo: Que raio de paraíso é esse que tem cobras falantes vendendo maçãs podres?! Que raio de paraíso é esse que quem come do fruto do conhecimento é envergonhado e depois expulso?!