São Tomé e Príncipe deve ter “soberania energética” dentro de 5 anos garante o BAD

Não é possível estar dependente 95% da importação de combustíveis e esse nem é um assunto ambiental, é um assunto de soberania energética”, afirmou Pietro Toigo em entrevista à RSTP.

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Energia-EMAE

O Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) garantiu apoio técnico e financeiro para São Tomé e Príncipe implementar 60% de energias renováveis e reduzir a dependência atual de 95% do diesel nos próximos cinco anos, disse em entrevista à RSTP o representante do BAD para Angola em São Tomé e Príncipe.

“Eu acho que financeiramente e tecnicamente é possível, é viável, se nós conseguirmos virar essa liderança para uma planificação e uma implementação, eu acho que vamos ter muitos parceiros alinhados atrás dessa agenda e acho que é perfeitamente viável virar em cinco anos para um sinal no qual o país será mais independente do ponto de vista energético e ter uma qualidade de serviços como deve ser”, disse Pietro Toigo.

A transição energética dominou o encontro que o representante do BAD para Angola em São Tomé e Príncipe manteve na semana passada com as autoridades são-tomenses, nomeadamente o Presidente da República, Carlos Vila Nova, a presidente da Assembleia Nacional, Celmira Sacramento, e com o primeiro-ministro, Patrice Trovoada.

“Eu estou extremamente otimista porque nesta semana, apesar das dificuldades objetivas e económica, foi exprimida uma visão e vontade muito clara das autoridades de que esta situação não é aceitável e o país merece muito melhor que isso”, afirmou Pietro Toigo em entrevista à RSTP.

Segundo Pietro Toigo, a transição energética deverá ser concretizada nos próximos cinco anos, sendo prioridade do investimento financeiro que o BAD prevê aumentar para mais de 55 milhões de euros nos próximos três anos em São Tomé e Príncipe.

“São Tomé e Príncipe, infelizmente não tem uma matriz energética para o século XXI. Não é possível estar dependente 95% da importação de combustíveis e esse nem é um assunto ambiental, é um assunto de soberania energética. Não é possível que uma economia relativamente pequena dependa tanto do exterior quando há recursos e há tecnologias para trazer a independência energética pelo menos a 40% do total”, defendeu Pietro Toigo.

“Nós estamos mais que disponíveis a financiar e a priorizar o setor energético […] Estamos mais que abertos a fornecer recursos técnicos e a colaborar com todos os nossos parceiros do sistema das Nações Unidas, do Banco Mundial para maximizar a mobilização de recursos para transformar o setor energético são-tomense”, acrescentou.

O BAD apoia “um plano abrangente” para inverter a matriz energética e fixá-la em 60% de energias renováveis, nomeadamente a solar e hidroelétrica, defendendo que 40% de energia térmica deverá passar a ser com maior recurso ao gás substituindo o diesel.

Por outro lado, Pietro Toigo considerou que “é absolutamente necessário impor a utilidade à Emae [Empresa de Água e Eletricidade]”, que não foi auditada nos últimos quatros anos, para colocar a empresa “numa trajetória de sustentabilidade financeira” através da “transparência financeira”.

“É essencial que os clientes que têm a possibilidade de pagar a energia sejam estimulados de forma bastante robusta a pagar porque se o serviço não é pago não é possível sustentar o serviço e acabamos com a qualidade”, defendeu Pietro Toigo.

O representante do BAD entende que será necessário aumentar a tarifa de eletricidade no país, porque no final “a tarifa cobrada tem que corresponder ao custo de produção”.

“Contudo, nesse momento a primeira ação tem que ser melhorar a qualidade do serviço. Não tem sentido imediatamente aumentar as tarifas num momento em que a população não percebe estar a receber os serviços devidos”, explicou Pietro Toigo.

O representante do BAD defende uma melhoria da cobrança de eletricidade com planos de pagamento para as instituições públicas com elevado volume de dívidas à Emae e redução das isenções, para que “os que podem pagar paguem sem dúvidas e sem atrasos”, e que haja tarifa que responda aos impactos sociais, nomeadamente para as comunidades mais vulneráveis.

Outra medida proposta pelo BAD é a instalação de painéis solares nos edifícios públicos, “para limitar a pressão sobre a procura da energia da Emae”, e contadores pré-pagos.

“Há outras formas de aumentar a eficiência energética. Pode-se poupar quase 2 megawatts de energia somente substituindo todas as lâmpadas incandescentes por lâmpadas LED”, defendeu Pietro Toigo, referindo que o processo está a ser implementado, mas deve ser acelerado.

O representante do BAD alertou também para a “quantidade, eficiência e racionalidade do pessoal” da Emae face “ao número de funcionários e os encargos com os salários”.

“Nós sabemos que a Emae aumentou muito o número de funcionários nos últimos anos, temos que ver se isso corresponde às necessidades da entidade”, apontou Pietro Toigo.

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