Padre denuncia carta “com muitas ameaças” e falta de liberdade de imprensa em São Tomé e Príncipe

Vicente Coelho foi um dos oradores na conferência, para abordar sobre o papel da comunicação social no fortalecimento da democracia, mas considerou que talvez seja “uma perca de tempo”  e que “não existe em São Tomé e Príncipe uma liberdade de imprensa” porque os se expressam livremente “são sancionados, marginalizados, espezinhados”.

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Vicente Coelho

O Padre Vicente Coelho denunciou na sexta-feira que recebeu “uma carta com muitas ameaças” na igreja onde celebra, alegadamente por causa das suas homílias e reflexões na Rádio Jubilar, afirmando assim que “não existe liberdade de imprensa” no arquipélago, porque “quem não pensa como aquele que governa é sempre visto como inimigo”.

A denúncia foi feita em pleno Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, durante a conferência sobre “Liberdade de Imprensa e Cidadania – Desafios e Responsabilidades”, promovida pelo Conselho Superior de Imprensa e o Sindicato e a Associação dos Jornalistas Santomenses.

“Eu gostaria de questionar se existe mesmo a liberdade de imprensa em São Tomé e Príncipe, porque onde há liberdade de imprensa nós aceitamos as criticas porque elas são construtivas, mas em São Tomé e Príncipe, porque acreditamos que a comunicação social está partidarizada em São Tomé e Príncipe e quem não pensa como aquele que governa é sempre visto como inimigo”, começou por afirmar.

Vicente Coelho faz parte da nova geração de jovens padres ordenados nos últimos anos em São Tomé e Príncipe. É bastante crítico nas suas homílias nas missas bem como na Rádio Jubilar, nas quais aborda, sem poupar nas palavras, os problemas sociais, políticos e económicos do país.

“Eu pessoalmente cheguei de formação com o intuito de dar o meu contributo ao meu país, mas quantas vezes já fui ameaçado? [… ] há dias encontrei na minha igreja onde eu celebro, uma carta com muitas ameaças, uma carta bem escrita, bem estruturada. Quem a escreveu? Por causa das coisas que eu digo nas missas e na Rádio Jubilar?”, indagou.

Coelho foi um dos oradores na conferência, para abordar sobre o papel da comunicação social no fortalecimento da democracia, mas considerou que talvez seja “uma perca de tempo”  e que “não existe em São Tomé e Príncipe uma liberdade de imprensa” porque os se expressam livremente “são sancionados, marginalizados, espezinhados”.

Diante do ministro da Presidência do Conselho de Ministros, que tutela a comunicação social, e demais profissionais do setor, Vicente Coelho defendeu que deveria-se “reconhecer o poder da comunicação social na educação, na promoção da economia, da cultura, da pessoa humana, porque a comunicação está ao serviço da pessoa humana, não ao serviço do poder político simplesmente, mas isso não acontece em São Tomé e Príncipe”.

Prosseguiu referindo que por isso existe “divisões na classe jornalísticas” e no país, sublinhando que parece não existir o desejo de se fazer um caminho diferente para a melhoria da situação e promover a união entre os cidadãos.

No Dia Mundial da Liberdade de Imprensa vários jornalistas são-tomenses de órgãos públicos consideraram que a influência política tem condicionado a liberdade de imprensa no arquipélago, associada ao fraco salário e falta de meios.

“Nós somos de um órgão estatal, dependemos do Estado, eu penso que há um certo medo por parte de nós, fazedores da comunicação social, divulgarmos alguma coisa, isto por falta de meios, recursos”, apontou a jornalista Hermínia das Neves, em declarações à RSTP.

No entanto, o Governo, através do Ministro da Presidência do Conselho de Ministros, rejeitou qualquer influência na Comunicação Social e prometeu melhorar as condições de trabalho.

“O Governo sabe bem que não há país no mundo que se tenha desenvolvido de forma duradoura, consistente e sustentável impedindo a comunicação social de fazer o seu trabalho e isso inclui, para além do não cerceamente da atuação e de consciência, a criação de condições laborais condignas para o exercício da profissão, quais sejam melhores instalações e equipamentos, mais e melhor formação e capacitação, melhores condições salariais”, defendeu Lúcio Magalhães.

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