Jorge Pires de Apresentação e Agostinha da Glória de Apresentação são deficientes físicos, casados há 24 anos, sem filhos, mas apesar das dificuldades cuidam de quatro crianças que não estão na escola, por falta de apoios ao casal e para as crianças.
O casal reside em Água Bôbo, distrito de Água Grande, mas apesar das dificuldades financeiras que enfrentam, é com bom humor e naturalidade que lidam com a situação e transmitem sentimento genuíno provando que a deficiência estabelece limites, mas não impossibilidades.
Agostinha da Glória de Apresentação tem 51 anos, mas aos 4 anos de idade, foi diagnosticada com traumatismo nas pernas e aos 9 anos tornou-se deficiente físico.
“Eu andava com mão no chão, depois meus pais levaram-me para consulta para ter junta médica, mas depois, reuniram toda a família e disseram que a minha deficiência não é normal, e se me levaram para o exterior, poderei morrer, então mandaram-me usar a maneta [desde os 9 anos]”, contou Agostinha de Apresentação à RSTP.
Jorge Pires, de 54 anos, nasceu com má formação congénita, também nas pernas, como consequência de um acidente sofrido pela mãe durante a gravidez. Depois do seu nascimento, Jorge de Apresentação foi abandonado pela própria mãe e criado a sorte pela bondade dos outros.
O casal cuida de 4 crianças, mas nenhuma encontra-se na escola. Além disso, não recebem qualquer apoio do Estado ou de qualquer outra organização.
O marido era quem ajudava a trazer alimentação para a casa quando prestava serviços de limpeza de rua para a câmara distrital de Água Grande, mas atualmente tem enfrentado índice de cegueira, o que tem lhe dificultado a sair de casa para trabalhar.
Como forma de encontrar o meio de subsistência, este casal tem buscado o pão de cada dia, fazendo pequenos negócios na porta da casa.
“Eu vendo pão, eu faço açucrinha, mas esses dias como dinheiro está fraco, não estou a fazer açucrinha, só fui comprar um saco de carvão e coloquei na porta [para vender]”, disse a mulher que frisou só sair de casa aos domingos para ir ao culto.
Agostinha da Glória de Apresentação clama por apoio, de forma a obter uma cadeira rolante para facilitar a sua locomoção e ganhar mais autonomia.
“Eu só quero um carinho para eu sair para ir igreja, não preciso de coisa para ir passear […] é isso que eu quero, ter um espaço aqui para eu fazer os meus negócios para sustentar a minha família, meu marido está a perder visão, eu sou deficiente [então] tenho que segurar casa”, precisou Agostinha de Apresentação.
“Eu queria que comprassem uma bicicleta adaptada para mim, eu com essa bicicleta consigo circular melhor”, sublinhou o marido, Jorge de Apresentação.
O casal tentou ter filhos próprios, mas não teve resultados positivos.
“Eu já tive três [filhos] com outro marido em Santana, mas todos morreram, depois eu vim aqui que eu engravidei [do atual marrido], dei à luz normalmente, mas morreu”, disse Agostinha de Apresentação.
“Desde lá para aqui, está tudo bem entre eu e ela”, reforçou o marido, Jorge de Apresentação.
Apesar da deficiência e dificuldades, este casal prova que o amor verdadeiro supera obstáculos e preconceitos, sendo que este não é um caso único.
Por todo o país, deficientes enfrentam dificuldades, sem acesso a equipamentos adequados, educação, transporte, tratamento médico ou trabalho e muitos vivem no limiar da pobreza extrema.
A lei base de pessoas pessoas com deficiência em São Tomé e Príncipe não é aplicada há anos por falta de regulamentação pelas autoridades.