O professor e escritor são-tomense, Lúcio Neto Amado, lançou no sábado, a sua sétima obra intitulada “A Mulher que Cultivava Silêncios”, que aborda vários assuntos, com destaque para a problemática de violação sexual de menores, o ensino e preservação das línguas, bem como a exclusão de albinos.
Quanto à violação sexual, o escritor disse ter dicado “assustado com o número de violações que existem” na sociedade são-tomense enfatizando que “que a própria sociedade não tem noção da dimensão da violação que existe”.
Segundo Lúcio Amado a palavra “silêncios” foi associado ao título da obra “porque são as mulheres de São Tomé e Príncipe, que cultivam o silêncio sobre as suas filhas pré-adolescentes que são violadas”.
“Isto é um trauma para toda a vida, dificilmente se fala dessas coisas, porque temos um problema grave que tem a ver com a justiça“, frisou.
As crianças têm sido as principais vitimas do abuso sexual e violações em São Tomé e Príncipe, daí que o autor deixa o alerta para a sociedade e as autoridades.
“A mensagem que eu trago é para estarmos atentos, sobretudo, com sinais que as crianças transmitem ao adultos [porque] uma criança que está a ser violada por alguém da família, por amigos da família, ou pelo padrasto, a única coisa que ela faz é não falar […] são pequenos sinais que podemos ver“, precisou Amado.
“É preciso que as famílias estejam atentas para minimizar este problema de violações de menores que existem no nosso país, é uma coisa transversal quase toda a sociedade [conhece]“, defendeu.
O livro “A Mulher que Cultivava Silêncios” também chama a atenção sobre o ensino e preservação das línguas em São Tomé e Príncipe, nomeadamente o crioulo fôrro e a língua portuguesa, “que são muitos maltratadas”, segundo o autor.
“Nós temos muitas dificuldades de falar as nossas línguas“, ressaltou Lúcio Amado.
Atento ainda às situações sociais, o escritor chama a atenção para a eventual exclusão dos albinos em São Tomé e Príncipe, manifestando a sua preocupação.
“Okossô em nossa terra quer dizer albinos. Fiquei muito preocupado porque ando nas ruas, nas escolas, nos bairros e não vejo um albino, alguma coisa está a acontecer, isto me preocupa muito“, disse.
“As famílias escondem-nas, é muito mal, as autoridades deveriam agir para saber o que se passa com os albinos que nós achamos ‘okossô’“, completou.
Amigos, familiares e amantes da literatura presentes enalteceram a importância da obra, e o contributo do escritor Lúcio Amado para a cultura são-tomense.
“Eu o considero um embaixador da nossa cultura e das nossas expressões. Nesta obra, ele segue a linha do que já tem feito, é uma coletânea de contos muito interessante de se ler. Os contos são pequenos e de leitura fácil, que nos levam a rir, chorar, pensar e questionar aquilo que são as nossas crenças, nossas convivências e as coisas que acontecem no nosso país“, disse a apresentadora do livro, Graça Augusto.
“É um livro que nos interessa ser lido, porque esse livro repercute muito o aspecto da nossa cultura, e eu respeito a nossa cultura como nossa identidade“, disse o escritor são-tomense, Albertino Bragança, defendendo a introdução das línguas nacionais nos ensinos escolares “como forma de preservação“.
Lúcio Amado é autor de cerca de sete livros, sobre diversas temáticas, entre as quais a educação, cultura e a história de São Tomé e Príncipe.