A ministra da Educação, Cultura e Ciências, assegurou que o Governo são-tomense “está empenhado” em garantir que a fonte primária que descreve a revolta do Rei Amador seja restituída ao acervo arquivístico do país, segundo a ministra da Educação que defende que é fundamental que o povo não perca “as partes essenciais da nossa história“.
“Esta ação visa permitir que o evento seja reintegrado e reinterpretado pelos nossos investigadores e docentes universitários, considerando a complexidade de alguns aspetos que até agora foram negligenciados”, disse a ministra.
“Além disso, foi criada a comissão nacional do património cultural com especial foco nos engenhos de açúcar, localizado na Praia Melão para garantir a preservação e o estudo contínuo do nosso património histórico”, acrescentou.
Isabel Abreu falava durante a cerimónia da comemoração do dia do Rei Amador que se assinala anualmente a 4 de janeiro em São Tomé e Príncipe, e que foi marcada mais uma vez pela ausência dos altos titulares dos órgãos de soberania.
Como nos anos anteriores, a ministra da Educação, Cultura e Ciências, voltou a prometer a valorização da história do Rei Amador em prol da cultura são-tomense.
“É com esse espírito de valorização da nossa história que, ao celebrarmos os 429 anos da morte do Rei Amador, uma figura de extrema relevância na história africana e são-tomense, prestamos homenagem a um líder que, no contexto da cultura da cana-de-açúcar nas ilhas, durante os primórdios da colonização portuguesa em São Tomé e Príncipe, se destacou pela sua luta incansável contra a escravidão e maus-tratos pela defesa da liberdade dos negros no arquipélago”, disse a ministra da educação.
Isabel Abreu realçou o papel do Rei Amador na luta pela liberdade do povo de São Tomé e Príncipe, destacando a importância histórica do monarca e o seu legado na resistência ao sistema colonial e a contribuição para a construção da identidade nacional.
“Embora a decadência da produção de cana-de-açúcar já fosse um sinal evidente, o evento que envolveu Amador contribuiu decisivamente para a mudança da administração colonial de São Tomé e Príncipe para o Brasil”, disse.
No entanto, o novo diretor-geral da Cultura destacou que o país carece de recursos para escrita adequada da história de São Tomé e Príncipe.
“Vai levar muito tempo porque precisamos de muitos especialistas e, atualmente, no campo da história são-tomense, temos muitos poucos quadros especializados nessas áreas e temáticas a história está dividida entre história moderna e contemporânea, e, até então, nós não temos ninguém com doutoramento em história moderna [então] há necessidade mais urgente de arranjar jovens e pessoas empenhadas nesta área para nós escrevemos a esta história”, disse Emir Boa Morte.
“Para além da disciplina da história, nós também tínhamos que ter arqueologia, nós não temos arqueólogos, o que temos não estão no país, e também ter um antropólogo para ajudar a escrita da história, porque a escrita da história não pode simplesmente circunscrever a disciplina ou a área da história”, acrescentou o diretor-geral da Cultura.
Como nos anos anteriores, o escritor, investigador e ensaísta, Francisco Costa Alegre voltou a sublinhar a necessidade de maior valorização do legado do Rei Amador pelos atuais titulares dos órgãos de soberania que têm estado ausentes nesta cerimónia,
“Todos nós devemos trabalhar no sentido de fazer com que a nossa geração, a geração que há de vir, se aproprie desses conhecimentos e que faça enaltecer a heroicidade do Rei Amador, isso, a comunicação social, os órgãos de soberania, a Direção da Cultura e muitas outras instituições poderão fazer com que isso se mantenha, eu tenho falado disso sempre”, vincou o Francisco Costa Alegre.
“Parece-me que as grandes autoridades do nosso país, as altas magistraturas, não dão importância a isso, ou se dão, estão no esconderijo […] vou reclamando como um escritor, investigador e ativista cultural, porque se houver empenho das autoridades, fará com que muita gente se aproxime dessa cerimónia e dê valor”, acrescentou Costa Alegre.
O feriado nacional de 04 de janeiro foi aprovado pela Assembleia Nacional em memória e homenagem ao Rei Amador, mas a data e a história desta figura mítica têm caído no esquecimento com o passar dos anos.
Uma exposição sobre a cana-de-açúcar e seus derivados, e apresentações da Banda das Forças Armadas e o Grupo Cultural Quiná também marcaram o dia do Rei Amador.