País -

O Paradoxo de Patrice Trovoada: Sucesso ou Fracasso?

Paciência é a capacidade de lidar com dificuldades sem perder a serenidade. E é aqui que reside um dos grandes desafios para Patrice Trovoada. Não sou psicólogo, mas é óbvio que falta-lhe paciência em vários aspetos. Falta-lhe paciência para compreender que ele é chefe de governo e não chefe de Estado.

Uma das questões mais difíceis que se pode colocar ao santomense comum é: o que faz com que um dos políticos mais bem-sucedidos da história recente de São Tomé e Príncipe seja, ao mesmo tempo, considerado o mais fracassado de todos os tempos?

  1. A Trajetória Inigualável de Patrice Trovoada

Nos últimos 20 anos, São Tomé e Príncipe enfrentou inúmeras turbulências políticas, com a mudança constante de primeiros-ministros. No entanto, nenhum outro político se compara à frequência com que Patrice Trovoada assumiu o cargo de primeiro-ministro desta pequena nação.

Costumo afirmar que qualquer santomense deveria, de certa forma, rever-se no currículo de Trovoada. Sua trajetória política é, sem dúvida, impressionante. Parece até que ele nasceu predestinado para o cargo. Contudo, a realidade é que, com a mesma rapidez com que alcança o poder, ele também o perde. A história de Trovoada é, sem dúvida, marcada por sucessos, mas também por constantes revezes.

  1. O Verdadeiro Desafio: Manter o Sucesso

O sucesso, por si só, é algo relativamente fácil de alcançar. O verdadeiro desafio, no entanto, está em sustentá-lo ao longo do tempo. E é precisamente nesse ponto que, na minha opinião, Patrice Trovoada falha. A falta de preparação adequada pode ser um dos fatores que explicam essa dificuldade.

O curioso é que Trovoada, ao contrário de muitos políticos, adota uma espécie de “ano sabático” sempre que sai do poder – algo que poderia servir de reflexão para uma boa preparação. No entanto, essa pausa prolongada (que varia entre dois a quatro anos) não se traduz, como seria de esperar, em uma recuperação ou renovação eficaz. Ainda assim, há quem aponte um outro fator: uma fome insaciável de autoritarismo, que, por vezes, o leva a cometer erros básicos.

  1. Os Três Pilares do Sucesso

Para sustentar o sucesso de forma duradoura, é necessário que um líder tenha como base três pilares fundamentais: persistência, paciência e perdão.

  1. a) Persistência

Persistência é a capacidade de manter o esforço contínuo para alcançar um objetivo, mesmo diante das dificuldades. Durante a Segunda Guerra Mundial, Winston Churchill proferiu, na Harrow School, a célebre frase: “Never give up” (“Nunca desista”). Diz-se que essas foram as únicas palavras que ele pronunciou naquele dia, repetindo-as três vezes antes de sair da sala.

Seja verdade ou não, o fato é que Patrice Trovoada não falha em persistir. Desistir nunca foi uma opção para ele. E é precisamente por isso que, até hoje, ele continua a ser a figura política mais resiliente de São Tomé e Príncipe.

  1. b) Paciência

Paciência é a capacidade de lidar com dificuldades sem perder a serenidade. E é aqui que reside um dos grandes desafios para Patrice Trovoada. Não sou psicólogo, mas é óbvio que falta-lhe paciência em vários aspetos. Falta-lhe paciência para compreender que ele é chefe de governo e não chefe de Estado. Falta-lhe paciência para entender as dinâmicas internas de uma comunidade e para aguardar o momento certo para agir.

  1. c) Perdão

O perdão é fundamental para a construção de uma trajetória política sólida. Nelson Mandela, uma das figuras mais admiradas mundialmente, ensinou a humanidade o poder do perdão e o impacto positivo que ele pode ter na paz interior e no equilíbrio social.

Quando falo de perdão, vejo que Patrice Trovoada, provavelmente, nunca se perdoou pelas suas próprias falhas. Nem se trata de perdoar terceiros, mas sim de perdoar a si mesmo. Para alcançar o verdadeiro sucesso, ele precisará, antes de mais nada, aprender a perdoar-se e, depois, estender esse perdão aos outros.

  1. O Futuro de Patrice Trovoada

O grande desafio de Patrice Trovoada está em lidar com esses dois pilares: paciência e perdão. São esses fatores que determinarão, na minha opinião, seu verdadeiro lugar na história de São Tomé e Príncipe. A sua falta de atenção a esses aspetos é o que, na prática, tem contribuído para o seu insucesso.

Agora, resta-nos esperar para ver como ele usará os dois anos sabáticos que lhe restam. Será que esses anos de pausa servirão para refletir e melhorar? Ou continuaremos a ver mais do mesmo?

  1. O Que Esperar a Seguir?

Se o raciocínio aqui apresentado foi bem compreendido, no próximo capítulo pretendo abordar temas como o “golpe de Estado palaciano” e discutir o que fazer com a cúpula de traidores dentro do partido. Além disso, farei uma análise sobre os desafios que o novo executivo enfrentará.

 

Comentar
 

Comentários

ATENÇÃO: ESTE É UM ESPAÇO PÚBLICO E MODERADO. Não forneça os seus dados pessoais nem utilize linguagem imprópria.

Últimas

Topo