O ADI, o MLSTP e a Confusão das Línguas: Uma História de “Muala Palidu” e “Lendelu Montchi”

Era uma vez, nas terras encantadas de São Tomé e Príncipe, um partido político com um nome pomposo: ADI, ou seja, Ação Democrática Independente. Até recentemente, este partido, tal como a nossa boa música em forro, vivia a sua melodia com uma sintonia considerável. Mas como sabemos, até os melhores acordos podem ser interrompidos por uma cadeira que quebra, ou um erro de interpretação de letra… e no caso do ADI, foi uma combinação de ambos.

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Tudo começou com a queda do governo, uma situação que, para qualquer partido no poder, é como um desgosto de amor: inesperado e, no caso do ADI, também um pouco escandaloso. A partir deste momento, como numa boa música em forro, surgiram duas “danças” diferentes dentro da mesma casa: uma ala que falava português e outra que continuava a dançar ao som da música em forro. Cada uma com a sua própria visão de como deveria ser a música política.

Mas a verdadeira confusão começou quando, numa tentativa de esclarecer a sua posição e mostrar unidade, a ala que falava português começou a “traduzir” a canção em forro que, curiosamente, também falava de uma senhora que, num momento de grande emoção (leia-se: depois de ter dado à luz), teve uma surpresa muito desagradável — a cama quebrou! Um ou uma vizinha, mais curiosa que qualquer pessoa em uma festa, questionou: “O que é isto?”. Em português, isso parece simples, não é? Mas é aqui que entra a verdadeira “tradução” da coisa toda.

Para quem não sabe, no forro, língua materna de maior alcance em São Tomé e Príncipe, “lendelu montchi” é um eufemismo, uma expressão colorida e cheia de trocadilhos, que não se refere apenas a “camas que se quebram” ou “problemas domésticos”, mas sim… a “amantes”. Isto, claro, foi um detalhe que a ala do português não percebeu, ao tentar fazer a sua “tradução literal”. E, como se fosse uma versão moderna do “jogo dos erros”, o mais curioso é que, enquanto traduziam de forma literal, eles não conseguiam entender a verdadeira essência da mensagem.

A verdadeira tradução, como diria qualquer bom entendedor de forro (ou da política de São Tomé e Príncipe), é que a cama quebrada (ou a situação política, por assim dizer) não era um simples acidente. Na verdade, ela estava a sinalizar algo muito mais profundo: uma divisão interna, uma separação das coisas, onde, em vez de união, vemos a cama de um lado e o estrondo do outro, uma metáfora do que aconteceu com o ADI. E quem questiona isso, os vizinhos, são os que, atónitos, não conseguem entender o que realmente está a acontecer — ou seja, a divisão interna.

E aqui é onde o humor entra na história: no dia 28 de Março, quando o noticiário da RDP África nos brindou com uma conversa acesa entre a Presidente da Assembleia Nacional e o Vice-Presidente da República, o que se viu? Dois mundos, duas línguas e uma confusão tremenda. A ala da música em forro, ou melhor, a ala “que entende” as coisas de uma forma mais “dura”, estava a falar de uma realidade mais direta e, talvez, menos sofisticada. Enquanto isso, a ala que falava português tentava desesperadamente enquadrar a situação de uma maneira mais polida, tentando dar-lhe uma tradução que, no fundo, nunca poderia capturar a verdadeira essência da questão. E assim, como quem tenta explicar a letra de uma música em forro sem saber o que significa, a resposta da ala do português soou desajustada, enquanto a ala do forro continuava a sua dança, sem perceber que a cama já tinha partido há muito tempo.

Mas se o ADI ainda causa divisões claras, o MLSTP, o maior partido da oposição, não está muito atrás. Embora não tão visível como o ADI, também segue essa lógica. O seu líder, ao invés de se afirmar, parece mais inclinado a “traduzir” a situação à sua maneira, numa clara inclinação para a ala do português. Desde que saiu do congresso, não demonstrou a liderança necessária e continua sem conseguir se afirmar. A sua postura de constante hesitação, sem mostrar a força necessária para unir o partido e apresentar uma proposta clara, está a deixá-lo em uma posição frágil. Como na boa música em forro, ele parece mais perdido na dança do que qualquer outra coisa. E enquanto o povo observa, fica verdadeiramente baralhado, sem saber qual ala seguir, se a do forro ou a do português.

Dentro desta dinâmica, a ala que fala português, acreditando ser mais inteligente ou mais “sofisticada”, tende a ver a ala do forro como uma versão mais simplista e rudimentar da política. Para eles, a tradução do português para o forro é como uma tentativa de simplificar a complexidade, de uma forma que não está à altura das suas próprias interpretações mais “elevadas”. Mas, como qualquer bom entendedor de forro sabe, a verdadeira sabedoria não está na tradução literal, mas sim na capacidade de compreender o significado profundo daquilo que é dito. Enquanto a ala que fala português insiste na sua “superioridade”, a ala do forro continua, muitas vezes, a ver as coisas de uma forma mais prática, direta e verdadeira.

Não é por acaso que, na política, tal como na música, o erro de tradução pode ser fatal. Como na música em forro, a dança tem que ser feita no ritmo certo, senão acaba-se a cair. E no caso do ADI e do MLSTP, a verdadeira questão não é se a cama quebrou ou não, mas sim o que está por trás do “lendelu montchi”. Em política, como na vida, é preciso ter atenção aos detalhes e ao que realmente está a ser dito. Caso contrário, arriscamo-nos a cair de uma cama que nem sequer sabemos que está a partir.

E assim, o ADI e o MLSTP, tal como uma boa música em forro, continuam a tocar — mas, ao contrário do que gostariam de acreditar, nem todos os presentes sabem o ritmo certo para dançar.

Para os curiosos, a resposta à pergunta de “O que vem a ser isto?”, que foi feita pela vizinha perplexa da nossa história, fica no ar: será que o ADI e o MLSTP ainda vão encontrar o seu ritmo, ou vão continuar a confundir os acordes da política com as danças do passado?

Humor de Gravana, N° 3

Amador Cruz
Humor de Gravana, N°4

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